domingo, 22 de novembro de 2009

Este assunto é muito sério....estão destruindo o que resta


Pontes Belém-Mosqueiro ameaçam comunidades


Famílias da Ilha de Caratateua lutam para manter as suas terrasO próximo dia 28 de novembro é aguardado com ansiedade nas comunidades do Fama e da Tucumaieira, na ilha de Caratateua, onde fica a praia do Outeiro. É quando as famílias que moram nessas duas comunidades terão uma reunião com representantes da Prefeitura e da Companhia de Desenvolvimento da Área Metropolitana de Belém (Codem) para definir se - e de que forma - terão direito a uma titulação definitiva dos terrenos onde muitos vivem desde que nasceram. O tempo urge para essas pessoas, já que é cada vez mais certo que elas serão impactadas - para o bem ou para o mal - pela a construção das pontes que irão ligar Belém a Mosqueiro.

Pelo menos uma delas passará no meio das comunidades. Foi o que anunciou o secretário municipal de Urbanismo Sérgio Pimentel, no meio da semana, em uma audiência pública com moradores de Outeiro. A obra tem um custo inicial estimado em R$ 150 milhões e pretende reduzir a distância entre Belém e Mosqueiro em pelo menos 60 km. No projeto inicial, quatro pontes estão previstas para serem construídas.

A decisão oficial veio à tona este mês, o que significa que deve estar sendo elaborada em gabinetes há muito mais tempo. Esse é o raciocínio da presidente da Associação Comunitária do Fama, Ângela Carvalho, 34 anos. Esse seria o motivo pelo qual nos últimos meses uma pequena guerra escondida esteja sendo travada nas comunidades. Terras que antes não eram valorizadas passaram a ser alvo de cobiça. Uma grande empresa construtora de Belém já saiu comprando terras de moradores mais antigos de Tucumaieira. Numa guarita improvisada, um homem forte faz plantão dia e noite para evitar ‘invasões’. Um empresário da comunicação e um político ligado ao PSDB também já teriam comprado extensos lotes de terra na área.

As pequenas invasões já começaram. Uma bandeira do MST já foi fincada no local. Entre os moradores da comunidade se diz que os sem-terra estão preparando a chegada de 1.500 famílias para ocupar as terras. Além disso, ações semelhantes a de grileiros, começam a ser executadas, principalmente em Tucumaieira.

Noêmia Oliveira, 62 anos, é uma das que vêm sofrendo com essa ação. Mora há 20 anos no Tucumaieira. Comprou a casa do mesmo homem que agora quer expulsá-la do local. “Ele está fazendo o mesmo com um monte de vizinhos meus. Muitos já foram embora porque tiveram as casas derrubadas”.

O homem é conhecido por Ferreira. Tem a ajuda de outro, o Quaresma. “Acabou o sossego da gente”, diz Noêmia, que plantou dezenas de pés de açaí no quintal da casa, que dá para um igarapé, onde cem metros adiante irá ser construída a ponte. “Acho que cresceu o olho depois que essa história da ponte começou a ser falada”, acredita.

“Na verdade, está faltando definir o que é o projeto. A especulação é grande. Precisamos saber se é viável para a comunidade. Ninguém tinha visto nada do projeto até aquela audiência”, diz Ângela, a líder comunitária.

PONTES

Com custo estimado em R$ 150 milhões, a construção das quatro pontes pretende reduzir a distância entre Belém e Mosqueiro em 60 km. Pelo menos uma das pontes passará no meio das comunidades do Fama e da Tucumaieira, na ilha de Caratateua. So na Fama vivem 872 famílias.

Especulação imobiliária já começou

Para os moradores, o clima é de expectativa e certa insegurança. “A gente não sabe bem o que vai ser feito de nós. Eu tenho medo de perder o sossego, mas tenho medo de perder mais ainda a minha casa”, diz Raimunda dos Santos Carvalho, 74 anos, viúva há cinco meses, desde que o marido foi morto a tiros em uma emboscada armada por ratos d’água que lhe levaram pertences do barco. “Eu moro aqui há 19 anos. Algum direito eu devo ter”, diz ela.

O problema, segundo Ângela Carvalho, é que nenhuma das 872 famílias do Fama, por exemplo, possui titulação da terra. Mesmo que estejam no local há pelo menos três gerações. No Tucumaieira, documentação de terra também é artigo de luxo.

Amil Menezes, o ‘Caçamba’, quase não enxerga mais devido a uma ‘carne crescida’ nos dois olhos, mas anda nas matas de Tucumaieira como ninguém. Faz às vezes de mateiro para a construtora que comprou as terras na comunidade. Espreita para ver se alguém se embrenhou na mata com a intenção de invadir. “Olha, tenho 46 anos e, desde que me entendo por gente, dizem que vão fazer essa ponte. Eu mesmo já fiz uns seis picos de demarcação para a construção de obras de ponte e até hoje não vi sair nada”, diz ele. Caçamba diz que ainda encontra caça nas matas locais. “Tatu, paca, cotia. Só não tem veado. Esses só no Outeiro”, brinca.

No Fama, à beira do igarapé que desemboca no rio Maguari, Dalva Ribeiro, 56, teme o aumento da violência, mas entende que uma hora vai ser preciso mudar. “Não temos nada por aqui. Nem lojas, nem nada. Quem sabe com a estrada isso mude”. Irmã Dalva, como é conhecida, largou o Marajó, onde o pai trabalhava como ‘feitor’ em fazendas, para vir morar em Belém. Há seis anos está embrenhada na beira do rio e da mata. “Sei tudo de cavalo”, diz. “Agora estou domando os barcos a remo”. Está tentando aprender a lidar com a criação de peixes. O marido, Anselmo, já cavou três locais que serão tanques, planejam, para tilápias e tambaquis.

A comunidade do Fama vem passando por treinamento feito pelo Senac para aprender a lidar com a criação de peixes. É uma alternativa de renda. “Estamos num impasse”, diz Ângela Carvalho. “Essa é a única parte de toda a ilha que ainda tem mata. O Fama era o patinho feio que agora todos estão achando bonito. A ponte vai trazer benefícios? Não sei. Não se sabe. O que sei é que moramos num paraíso e poderemos passar a viver no inferno. Isso é o que eu sei”. (Diário do Pará).










O texto acima faz parte da reportagem do Diário do Pará do dia 22 de novembro, o fato é que em caratateua a especulação ja começou, acontece que no mosqueiro também existem comunidades que precisam ser preparadas para o que vem pela frente, pois este projeto que a atual prefeitura quer por força implentar não leva em consideração a vida das pessoas que moram nestes locais e muito menos os impactos ambientais que inevitavelmente acontecerão.

O mapa que coloco é justamente do ponto entre caratateua e mosqueiro, é notório que ainda existe bastante vegetação de ambos os lados e focando nó mosqueiro fica claro a existencia do que talvez seja a ultima área de floresta nativa e extrativista daquela região.

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